- Pra onde eu olhara esse tempo todo?
Eu me vejo de cabelos brancos,sentadinha em uma cadeira em movimento vem-e-vai e sobretudo,escrevendo.
(Ana Stefana Lisboa)
quinta-feira, 26 de novembro de 2015
A folha da Vieira Souto
- Pra onde eu olhara esse tempo todo?
terça-feira, 27 de outubro de 2015
Enquant
o corpo aquece, entrelaça as pernas como num encontro. Ligeiras são.
Enquanto a mente di-va-ga,
o mundo exige, explode, grita. Suga sorrindo. Avisto o sinal sempre esverdeado.
Enquanto a mente di-va-ga.
tão opostamente que chega a congelar tempos, cessar pernas, cortar a fala.
Enquant
segunda-feira, 19 de outubro de 2015
O que o homem não consegue tocar
O galou cantou fortemente ao fundo.
Não pudera esquecer-te jamais da sua natureza.
Avisara ao galinheiro que se mantivera ali, imponente, altivo.
E mais [com a minha visão amorosa], festejara também o amanhecer, o virar do dia, o renovo da manhã. É uma das pouquíssimas coisas que o humano ainda não conseguiu interferir: no canto do galo, no latido do cão, no miado do gato.
Qual seria a essência do Divino em mim?
O movimento involuntário do respirar: inspirar e expirar.
Como numa dança: um pra cá, um pra lá.
Li, certa vez que, ao nascer enchemos os nossos pulmões de ar, e ao partir, expiramos. O morrer e o renascer em todo tempo.
Basta olhar pra dentro.
quinta-feira, 19 de março de 2015
Crise de paradigmas
Me faz sentar na "cadeira do pensamento" daquela minha infância.
Minha mãe costumava fazer isso:
- Fica de castigo aí. Repensa o que você fez!
Dessa vez, sento bem voluntariamente. Sem repensar em alguma falha exata.
Penso.
Repenso. Tudo.
Refaz.
Desfaz. Tudo.
Apronta.
Desmonta. Tudo.
Tudo. Em, Um. Piscar. De. Olhos.
A impressão de que ninguém tenha um ponto fixo.
As cenas se fazem e se desfazem tão facilmente.
A vida muda de rumo da noite para o dia.
Tão natural, tão sem controle.
Corrida nos bastidores para o próximo espetáculo.
Ensaiamos o enredo que nem sabemos quem seremos.
Defendemos princípios e doutrinas sem indagar.
Sem voz.
Só aceitamos o que nos é posto.
E os índios chegaram ao Brasil, antes mesmo de Cabral. Entendeu?
Abraçamos a receita do bolo já pronta.
O minucioso não é explorado.
Ainda bem que, depois da crise de paradigmas, chega a conclusão. Ou não.
terça-feira, 24 de junho de 2014
Os apitos me sufocam
Rodear sem parar e notar a realidade: esta.
Me giram feito roleta sem pausa para um respiro.
Apostas.
Esperanças.
A rotação ainda movimento.
Tortura.
Desejo desenfreado de contornar o céu pelos céus.
Transformar todos esses barulhos em um silêncio.
ou
Ser um pássaro voador e ganhar uma festa surpresa no azul celeste com as aves.
Meus amigos ficariam lindos de asas.
Anjos também voam.
quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014
Perder-se também é caminho
Nem, ao menos, me importar com o caminho alternativo do ônibus.
As muitas contramãos, às vezes, calorosas.
Os muitos sustos com as curvas sinuosas.
O molejo sem avistar o que está por vir: o ponto-cego.
O nu obscuro daquela vitrine.
As curvas de um corpo obsoleto que não prevê.
Aqueles muitos planos a escrever:
Inválidos, sólidos, inconscientes, abstratos.
Amanhã, dia 07.
Depois, 08.
A inflexibilidade em escrever o futuro: ignorância.
O que está por vir.
Não sabemos.
Só recebemos.
As palavras de Clarice como bússola:
Perder-se também é caminho.
segunda-feira, 30 de setembro de 2013
Férias
Revezo as mãos.
A fazer ponta no meu lápis de cor amarelada.
A esticar as mãos nos móveis rústicos.
A revirar as antigas fotos.
Respirando os ares daquela infância, merendando o lanche escolar.
Sentava no colo de minha mãe que fazia um penteado.
Os bons amigos.
E poucos.
A se contar nos dedos hoje.
Centenas de caminhos percorridos.
A lanterna ainda acesa para enxergar os certos.
Revezo os sentidos.
Chinelo nos pés.
Pique-esconde na rua, voltava sem um dos lados.
A empinar um pipa no alto com uma rabiola bem grande.
Lembranças.
Férias.
É isso, o memoriar do simples.
A abrir as cortinas e deixar o Sol entrar devagarzinho.
Aquecendo aqueles tempos.
segunda-feira, 9 de setembro de 2013
Alguns Champignons
A vida é viver. A morte é morrer. Tão óbvio,mas não.
Mas quando se está morto, mesmo com vida?
O respiro saí lentamente, os passos um tanto tortos.A morte aparenta ser a última saída.
Priorize pensamentos, filtre pessoas, tempo e modo, caminhe em sentido contrário ao tédio.
Não seja mais um Champignon.
Procure ajuda, encontre LUZ, veja DEUS.
Se não, é morte. É se despedir aos poucos, dia após dia.
E, Champignon não faleceu hoje.
A tal linha foi percorrida, só que ninguém viu.
Temos alguns Champignons vivos, disso eu sei,tenho certeza.
quarta-feira, 28 de agosto de 2013
Sem leis
Mania feia essa de conjugar a imposição, viu?
Me conte o dia em que a mente entenderá que o ganhar chega sem querer, sem prever?
Me diga aí, circulo em vermelho no calendário daqui, estou precisando saber.
É claro que certos anseios só se casam com o esforço e a dedicação.
Mas, estabelecer sensações, sensibilidades, emoções, sentimentos. Não.
Se isso realmente valesse, eu iria impor o amor, a compreensão, o respeito.
Determinaria o bom dia para o cobrador, a licença ao passar, o desejo realizado antes mesmo da saudade.
E QUE saudade.Eu imporia só o bem-estar, só. Quer uma rede?
Determinaria uma rede também, sem problemas.Aceita um café?
Vestida a caráter militar, eu rondaria o quartel e aplicaria duras punições aos que não seguissem à risca.
Não. Sem ordens. Já temos muitas leis desobedecidas.
Já temos muitas más penalidades que nem funcionam mais.
Tudo acontece tão na-tu-ral-men-te.
Repita devagar: na-tu-ral-men-te.Fica bem mais leve, solto, não é?
Repito na-tu-ral-men-te.
Soletra aí, coração. É a sua vez.
segunda-feira, 24 de junho de 2013
Ao som de ...
Os olhares bem mais que seis.
Nada calculado e nem planejado: O encontro em um lugar obscuro.
Depois, mais encontros, centenas de beijos, um cartão de visita e dezenas de abraços, que diziam claramente:
- Fica tá? Não vai não, senta, aproveita, curte!
O rio da sua sinceridade rodeia a minha floresta.
Respiro leveza e bem-estar.
Acordo deixando escapulir três sorrisos no canto da boca.
Cinco vontades de continuar.
Setenta cautelas pra não sufocar.
Nas mãos, sem instruções pra fazer você ficar.
No bolso, boas energias e alegrias em retribuição a todo esse bem, meu bem.
Adoro.
Adorando.
quinta-feira, 18 de abril de 2013
Sem enganos
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Por falha humana ou até mesmo por implicância infantil, temos o prazer de esconder a realidade. O combate requer esforço, determinação e garra,muita garra! Relutar exige querer, vontade, disposição. E, quando pensamos em desistir, olhamos para o troféu, medalha, prêmio ou qualquer outra coisa que impulsione ao melhor, a realização,a conquista. E, quando se guerreia por algo supérfluo? Pelejar pelo irreal é perda de tempo, envolve gasto físico e mental. Não. Não é prazeroso pintar o real - que por muitas vezes doloroso - de sorrisos, alegrias e lantejoulas. Empenha-se no verídico, no que lhe é proposto. Disponha-se em lutar por quem também faça o mesmo por você.Não se permita dizer "sim" para o "lute daí que eu só finjo daqui".
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- Fique por aqui, Senso. Sente-se e nunca mais levante.
quinta-feira, 18 de outubro de 2012
Cúmulo da fadiga
Por natureza, costumo cansar do que me traz cansaço.
Canso da história, dos hinos, dos personagens e de suas respectivas desculpas.
Mas ainda assim, aguardo e prolongo a desistência. Tenho cautela e frequentemente lembro das citações populares:
- Cuidado pra não ser arrepender, muié!
O arrependimento acontece quando lá na frente ou alguns segundos depois, a sua mente te aponta o dedo e diz:
- Eu deveria ter feito diferente.
Mas, e quando você apronta o anzol, coloca a melhor isca e posiciona bem perto da boca do peixe?
Mas, e quando você já aprontou 45 anzóis, 578 iscas e o peixe nem sequer ameaça a comer?
E, quando além do cansaço de preparar tudo, o infeliz nem se move.Então, resta-nos o acúmulo da fadiga e a mente de novo acusa:
- É a isca que não é muito boa!
Engano seu, mente.
Nesse caso, é o peixe que não sabe discernir um bom alimento.
quinta-feira, 9 de agosto de 2012
Encanto e desencanto
Estendo a toalha na mesa e faço o melhor café.
Aproveite.
Forro o piquenique com frutas vermelhas e posiciono a nossa rede.
Aproveite.
Pinto, bordo, monto o circo e picadeiro.
E ouço da platéia:
- Again?
O público além de bom entendedor também fala inglês, só ainda não entendeu do contrário.
Pause no jogo.
Tirando toalha e requento café de três dias atrás.
Não forro piquenique, não tem frutas e nada para segurar a rede.
Apago, desbordo, desmonto o circo e o picadeiro junto.
- Entendeu, platéia?!
Isso é um caso à parte que acontece.Acredite, se quiser.
Mesmo sem terem visto o contrário.
Mesmo assim-tão-meio-muito-raramente.
Eu consigo desencanar.
Desencanar do encanto.
Meus parabéns!
quarta-feira, 27 de junho de 2012
Sentimento
- Vamos, anda. É preciso pressa para retirar boa parte das coisas de lá!
Abrimos juntos a porta e entramos na ponta dos pés.Te olhei de lado e notei suas malas, suas mãos e seu desgosto de ter que partir. Eu sei, eu sei, é difícil amontoar tudo,todos aqueles pares de sapatos que um dia você largou pela sala, suas roupas no varal e seus pertences íntimos no banheiro que de vez em sempre você me pegava usando.
Certamente algo ficará por aqui, algum pertence deixarás aqui, no canto, atrás da cortina pra que haja lembrança. Não temos como recolher tudo e eu também não quero. Quero lembrar e sorrir.
- Não derrube nada, não podemos acordá-los - briguei.
- Sim,senhora.
Me respondeu como se fosse um quartel militar.Sim, eu sei que sou.
- Não arraste a mesa, cuidado! Eles não podem acordar! - briguei de novo.
(Fez-se silêncio)
Aproveitei pra te mostrar as costuras na cortina da cozinha, as porcelanas coladas e o porta-retrato trincado e apontei:
- Eu não quero é isso aí,remendar mais pertences. - cochichei como calma no pé do seu ouvido.
Balançou a cabeça com se quisesse dizer algo, mas não disse.
- Anda,anda, ordena as coisas! Eles podem sentir sede e levantar para tomar uma água!
- Eles quem,minha senhora? - notei certa frieza na sua pergunta.
- Os sentimentos, meu bem!
terça-feira, 31 de janeiro de 2012
Frutos do mar
quarta-feira, 23 de novembro de 2011
Algumas malas
Alguém há de explicar tanto movimento : ônibus,malas,embarques e desembarques.Dizem por aí que o final de ano se aproxima e com ele carrega todos aqueles que não abrem mão da boa tradição: estar perto de quem se quer o bem neste momento tão iluminado de luzes natalinas e de fogos de artifício. Chegadas e saídas,todos em busca de um alguém,de um encontro levando em cada mala,uma história e mil lembranças.Quantos às esperas,elas já tornaram clichês nos terminais rodoviários,cada qual com sua aflição,agonia e felicidade como numa mistura de sensações. Descobertas,partidas,destinos afins : João Pessoa,Belo Horizonte,São Paulo. Os transportes partem para todos as regiões e transportam sonhadores,viajantes,historiadores. Todos em busca de algo ou alguém.
quarta-feira, 15 de junho de 2011
No ponto "P" do palco
(Dei conta do público à minha volta)
Gaguejei sem perceber,encolhi a roupa,amassei o vestido como uma criança indefesa que mal sabe como agir nessas ocasiões e realmente não sei não é,coração ??
-Acerte os passos,desamasse o vestido e sorria - gritou o coração.
Pois é,o coração agora dá ordens.Acertei,desamassei e sorri.Olhei fixamente a platéia,uns me passavam certo desgosto,quanto aos outros,ah outros,sorriam felizes.Olhei para os bastidores e notei que há dois minutos atrás,eu estava lá como os outros,roendo as unhas,vestidos amassados,rodopiando em torno de si e ainda mais,aguardando a sua vez.E agora,eu aqui,parada no ponto P do palco.Ainda rôo as unhas - é,eu sei,ninguém precisa saber desta questão.
- Não é,pessoal ? Ninguém precisa saber que ainda rôo as unhas,é que faz um bom que,que,que,que( gaguejo sem parar) que não sei lidar com o público,platéia,todos me olhando -pensei alto.
Por um instante,pensei que isso tudo fosse um sonho,sabe quando sonhamos de olhos bem abertos? Atentei-me para os lábios de alguns,os quais gritavam convictamente que nada disso era um sonho,é sim,uma realidade tão real quanto o palco. Coube a mim,apresentar-me sem o menor pudor,ensaiar o roteiro e atuar na peça eterna com um grande protagonista: O amor.
quarta-feira, 16 de março de 2011
Preciso..
terça-feira, 8 de fevereiro de 2011
sábado, 15 de janeiro de 2011
Enfim,foi só um desafogo
domingo, 2 de janeiro de 2011
Querida Montanha
Quis abolir o seu estado civil (confesso).Foi como um engatinhar na descida de uma montanha-russa : uma mistura de prazer,perigo e lógico,uma vontadezinha fenomenal de correr desesperamente para o final da fila e aguardar a minha vez novamente.Consegue projetar-me ?Calma,calma,tá tudo rápido demais não é,gente?Alguém de vocês tem o controle desse brinquedo?Alguém de vocês sabe me dizer se existe algum botão que possa apagar todas as minhas expectativas?E acabo de ouvir em tom bem irônico um "não me digas que estais auspiciosa?"Sim,estou, e há algum problema nisso?De me encantar com tudo e com todos ?
domingo, 19 de dezembro de 2010
O Colecionador de Balas
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
Questiono porque pudera
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
Tão nosso
Encontrava-me ali,muito bem acompanhada - por sinal.Era verão no Rio,e o sol radiante juntamente com as nuvens brancas como o algodão,analizavam o nosso amor - lá do alto - com um olhar crítico.Questionavam entre si,a veracidade deste sentimento.Enquanto nós,meu amor,passeávamos livremente dentre as flores avermelaranjadas caídas nesta grama fina e esverdeada.Seu cabelo espinhoso,mãos e rosto macios,meu cabelo liso e brincos pendurados;já não sei mais o que é seu e o que é meu.É tudo tão nosso,nosso amor,nossos gestos e olhares.Tornamo-nos uma única pessoa caracterizadas com quaisquer pronome possessivo: nosso,nosso,nosso.
Foto : Thienny Tamis e Lincoln Thomaz
quinta-feira, 30 de setembro de 2010
Adeus,amor
- Amor,vem mimi,logo!
- Tô indo,Ana - respondia seco
- Olha,vou te esperar,hein!
Sempre foi atenciosa,só pregava os olhos quando sentia meu corpo grudado ao seu.Foi um grande amor que arrumou as suas malas na calada da noite sem deixar quaisquer aviso prévio,nem ao menos uma lembrança na cabeceira da nossa cama.Terminou sem despedidas.Agora tento aqui,desdobrar as minhas pernas,encontrar soluções para resgatastes: a inquietação da mente,não deixa.Bem,última tentativa,concentro-me e comprimo meus olhos a fim de trazê-la de volta com a famosa força do pensamento.Dou uma folga aos olhos e abro o esquerdo lentamente: não consegui,o amor acabou mesmo!
quinta-feira, 26 de agosto de 2010
Não é assim,minha flor
Me bate uma certa aflição do que pode estar acontecendo com você - o que na verdade,até agora não sei -mas consigo sentir seus passos curtos e intensos aparentando um certo cansaço,angústia.Sinto que em meio ao trânsito do Rio,tu sentas na calçada em plena hora do rush,abandonada e desfalecida.Eu tenho um medinho que a cidade te devore ou até mesmo que tu cesses a tua vida atirando-se na frente de lesmas.Eu tenho um medinho que tu dissolvas,atravesses aqueles ralos imundos e que simplesmente suma.Não digo sumir fisicamente e sim, que sumas da pior maneira : perdendo o prazer de viver.Eu sei que às vezes nos sentimos um tanto fracas,frágeis.Mas não é assim,minha flor.Tu chegas no seu lar e trancas seu corpo,alma e espírito à sete chaves e morres de chorar.Choras tanto quanto os finais de tarde em pleno verão carioca e repito não é assim,minha flor.Não deixes ninguém tirar essa vontadezinha de viver.Consegue pensar na gente,na nossa alegria ?Então minha flor,vem comigo.Deixa pelo menos eu tentar te ajudar.Eu sinto que existe pelo menos uma gotícula de vontade de ser feliz,uma gotícula de vontade de sair dessa.Lembre-se que pensar,amar é extremamente normal,agora desgostar de viver ? Será que realmente vale a pena rasgar as suas vestes em prol de um outro ser humano? Ah minha flor,nós,humanos,somos um tanto incertos,inconstantes e falhos e tenho certeza que não vale.Não tenha medo de ser feliz sozinha,minha flor.
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
Bye,ventinho
Me abandonava ali,observando e analisando a direção do vento,a movimentação dos membros inferiores de estranhos,os fatos ocorridos e suas consequências.Tudinho pela brecha desta janela fosca que ainda me sobraste.Sentada num sofá em posição inclinada e fabricado exatamente com o molde do meu corpo,soando um ar de flexibilidade e descanso.Ouvia atentamente vozes,sussuros,suspiros e a correria das pessoas.É um tanto complicado permanecer anos sentadinha aqui,inclinando o meu rosto sabiamente permitindo que sentisse aquele ar fresco e contentando-me com apenas 5cm de visão de mundo lá fora.Me sentia presa com trinta e sete correntes e vinte e três cadeados.Consegue me entender?Que vontadezinha de presenciar essas situações de uma forma mais intensa mas faltava-me bravura.Tudo uma questão de co-mo-di-da-de.Até que um dia desses,notei uma porta suavemente aberta à frente desta janela,analisei com um olhar àgil e rapidamente saltei do meu queridíssimo sofá e escapei por aquela porta na ponta dos pés movimentando os lábios,sem transmitir nenhum ruído : Bye,ventinho!
domingo, 1 de agosto de 2010
37,5
E quando o fim de semana chegava,eu não resistia.Com uma tremenda dificuldade,calçava meu predileto sapato dourado com a esperança de que eles dariam um descanso aos meus pés.Pura bobagem.Eu sintia falta da mobilidade que meus dedinhos tinham dentro deles;espremiam-se,encolhiam-se,brigavam entre si e suavam.E agora? Meu único e predileto sapato não cabe mais em mim. Na verdade,a minha ida aos shoppings centeres à procura de um novo sapato - amor - foi em vão.Não acho sapatos com meu número.Não acho ninguém que encaixa-se comigo.Trinta e sete e meio.37,5.Agora entendo porque são únicos.Meus sapatos não são calças de strecth.Sim,as calças de strech se moldam ao corpo.Sim,os pés se adaptam aos sapatos.Mas quando as pernas crescem ?Mas quando os pés crescem ? As calças encurtam,os pés não entram nos sapatos.Chega uma hora,que eles apertam tanto,mais tanto que a única opção é renunciar.Nossa,e como me doí re-nun-ciar.Enquanto isso,ando com o contato direto no chão,na areia - que maravilha de contato.Sem qualquer pressa para comprar sapatos novos,amor novo.O coração cresce.Às vezes é até difícil diferenciar o amor da comodidade.Talvez um dia,nomeei a comodidade em amor,paixão,coração acelerado,frio na barriga,consideração e outras coisas boas mais.
sábado, 17 de julho de 2010
Cachos
Com Ana Stefana e Bruno Almeida
É bem legal o fim de tarde daqui, não é? Ela respondeu que era sim, assim como em todos os outros lugares. Justo quando não se vê mais o sol, mas ele ainda teima em iluminar e deixar aquele céu laranja, ou então em tons degradê: do azul mais claro e risonho no horizonte e vai escurecendo até achar o breu do céu lá no alto junto com algumas estrelas lingínquas.Ela me olhou sorridente,apontou com o indicador direto ao horizonte e me interrogou com trilhões de perguntas sem respostas.Minhas mãos,pernas,unhas e cabelos tremeram.Suspirei por três vezes.E passei a enrolar meus cachos desde dos fios até o couro cabeludo.Enrolando e desenrolado.Talvez assim,ela não mais repare que ficara sem explicações,sem respostas.Difícil foi desviar sua atenção do horizont e direcionar para meus cachos dourados e com tanta facilidade aprendestes a enrolar com seus próprios dedinhos - até mesmo com o indicador direito - meus cachos,que hoje,adquiriram a mesma tonalidade que o sol deixa todas as tardes aqui em Florianópolis.
sábado, 22 de maio de 2010
Normalíssimo
amores.Foi observado nos meus últimos meses resíduos de : ME AME POR FAVOR.Balela.Ligar todos os dias,deixar bem claro que precisa ser amada.Nada disso funciona mais.É justamente ao contrário.Não ligar nenhum dia,deixar nada claro.Ai sim,corre porque o bicho pega.O telefone toca sempre,os convites ficam pendentes.Essa minha mania de algum tempo atrás agora me faz ri.Hoje eu penso duas,três ou quatro vezes antes de ligar e às vezes,nem ligo.Isso me fez criar um imã imaginário com os amores,com os homens.Hoje,a insegurança me diz exatamente em que ser eu me tornei.Hoje,a insegurança me diz exatamente qual espécie de barreira eu conquistei.Hoje,eu analiso e reanaliso se amar é mesmo uma emergência pessoal.É fundamental ressaltar outra vez que o interessantíssimo passou a ser normalíssimo.